4 de junho de 2012

Regenerar Braga - o que fazer aos testemunhos da memória?






Braga tem assistido a uma verdadeira operação de cosmética. Ao abrigo do Programa "A Regenerar Braga", muitas têm sido as praças intervencionadas, dando uma nova configuração a esses locais.

Tal como tivemos oportunidade de abordar aqui, aqui, aqui e aqui nem sempre estas intervenções tiveram o início adequado, nem tão pouco os acompanhamentos específicos.

Muito se falou da necrópole tardo-romana da Senhora-a-Branca e ainda se fala do Aqueduto das Sete Fontes (desactivado) da Rua de S. Vicente e do seu aproveitamento em 1937 para fazer passar a tubagem de ferro, que agora foi substituída. Apesar da condução de água ser feita no tubo de ferro, este assentava numa galeria composta pelas pedras do aqueduto da água das Sete Fontes e que se ligava ao Chafariz do Largo dos Penedos.

Agora, no Largo Carlos Amarante (em frente ao Shopping de Santa Cruz e entre as Igrejas de S. Marcos (Hospital) e Santa Cruz, está em curso a renovação da Praça e consequentes trabalhos arqueológicos. Estes, bem diferentes dos casos da Senhora-a-Branca, Rua S.Vicente e Rua Andrade Corvo (Campo das Hortas), precederam as obras e já deram frutos.

A equipa de arqueologia da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho colocou a descoberto um antigo aqueduto em pedra, de grandes dimensões, que parece acompanhar transversalmente toda a Praça, provavelmente seguindo a orientação do antigo Convento dos Remédios.

E eis que na hora da verdade - SABER O QUE FAZER AOS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS -  dizia-nos um funcionário da empresa de construção que o aqueduto será destruído para ali se colocarem manilhas de betão.

Ora, se em S. Vicente houve meramente um acompanhamento arqueológico e medidas mínimas de impacto, que resultaram na manutenção da galeria, ainda que coberta com manta geotêxtil e preenhcida com gravilha, no Largo Carlos Amarante, onde se louva a prestação prévia da equipa de arqueologia, parece que o fim será mais trágico.

Não haverá possibilidade de manter o aqueduto, mesmo que enterrado? Não se poderá adoptar uma solução como na Rua de S. Vicente? E se o aqueduto ficar tapado, não poderia ser desenhado nas lajes de granito que farão de pavimento o esquema do aqueduto e o seu traçado?

Em Braga, no Largo de S. Paulo, as guias de granito ficaram a perpetuar a memória das divisões de edifícios romanos. Aqui pede-se que se seja mais ousado e se desenhe no pavimento o traçado e os tampos do aqueduto, para que as pessoas associem e se saibam reconhecer os seus sítios de interesse histórico. Afinal, a UAUM tem os registos gráficos efectuados pela sua equipa de campo e que poderão servir para reconstituir a memória da conduta. É, no mínimo, uma solução barata e eficaz para assegurar a preservação da memória, porque nós temos ideias de como ajudar a valorizar o património.

Faremos seguir missiva com esta ideia para a CMB.

4 comentários:

Rua S.Vicente disse...

Como diz Manuel Freire, "NÃO HÁ MACHADO que corte a raíz ao pensamento"e por isso é que é necessário fazer "escola",...

Anónimo disse...

Esta intervenção está a cargo da UAUM, logo, o futuro dos achados depende, em muito, do parecer emitido por esta entidade relativamente aos mesmos.

Se forem realmente importantes, como parecem ser, enão é claro que os investigadores da Universidade do Minho, responsáveis pro estes trabalhos, não vão deixar que os achados sejam destruídos.

Ricardo JovemCoop disse...

Tenho muita pena que o Gabinete de Arqueologia da CMB não estivesse representado na tertúlia promovida pela Coligação Juntos Por Braga, pois seria interessante ouvir a "sua versão" sobre este tipo de situações.
Contudo, nesta mesma tertúlia, ouvimos da responsável da UAUM que eram eles quem intervencionavam o Largo e que face à chuva e frio, estavam sempre presentes, a dar o melhor de si e com qualidade, a partir das 7h da manhã.
Este desfecho entristece-me porque ouvia (e vale o que vale) da boca do Sr. Arqueólogo da CMB no final da semana dizer que quem decide o que fazer não é ele, mas sim a DRCN/IGESPAR depois de ouvir a UAUM/GACMB. Fica para dedução: ou a DRCN/IGESPAR são insensíveis e não pugnam pelo seu objecto de matéria ou então estão a ser mal aconselhados!
E continua por explicar quais os critérios que levam à preservação ou destruição de um vestígio! E não me venham com a história da preservação pelo registo, porque esse não fica disponivel aos cidadãos em tempo útil e nem sequer é relevante na matéria de atracção turística. O povo gosta de ver e de sentir (imaginar é dificil).

Anónimo disse...

Ok. Depois de tudo o que tenho lido sobre este assunto, concretamente as explicações da CM e a opinião do Arqueólogo Francisco Sande Lemos, só posso concluir que estes trabalhos não estão nada bem entregues.

Ana